Diálogo e tratamento multidisciplinar são estratégias contra suicídios

Quando alguém fala em suicídio, qual a sua reação? Para o advogado e professor Celso Luiz Rodrigues Catonio, momentos assim passam despercebidos todos os dias ou são ridicularizados por quem ouve expressões como: “Não aguento mais essa vida”, “Vocês vão ver quando eu não estiver mais aqui”, “Bom mesmo seria não existir”.

 

Essa indiferença pode ser perigosa, especialmente em Mato Grosso do Sul, que já é vice-líder no ranking nacional de suicídios entre jovens, com idades entre 15 e 29 anos, e está entre os três estados em suicídio de indígenas. No mundo, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, conforme levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Os números realmente impressionam, mas precisamos acabar com os tabus que envolvem o tema, até para que possamos prevenir a atitude extrema de alguém que chega ao ponto de destruir o seu bem mais precioso, que é a própria vida”, disse Catonio, que foi à tribuna da Casa de Leis durante a sessão plenária desta terça-feira (5/9).

 

Segundo ele, falar ou questionar alguém a respeito do assunto é fundamental para identificar sinais sutis de quem está doente, deprimido, até mesmo sem saber disso. “Mas é preciso perguntar, conversar, realmente querendo ouvir o outro e entendê-lo, e não acusá-lo ou repreendê-lo, o que não ajuda em nada”, ponderou. Para Catonio, a atitude extrema pode ser motivada por impulso ou imposição de terceiros, mas, na maioria dos casos, é premeditada. “Tudo começa com a ideia de se suicidar, de fuga de algum sofrimento. Em seguida, a pessoa busca os meios possíveis, depois planeja e executa. Ou seja, ela passa por etapas e deixa sinais. Por vezes, fala do assunto, mas muitos ouvem e ignoram ou rejeitam, considerando besteira”, explicou.

 

O professor, que realiza trabalho voluntário como evangelizador de jovens em Campo Grande, ressaltou que falar de suicídio e debater o assunto abertamente é uma das melhores formas de prevenir o ato. “É uma ideia errônea achar que falar do assunto pode incentivar alguém a se matar. Outro mito é dizer que quem fala em se matar não chega a fazê-lo. Se alguém chega ao ponto de dizer, isso deve ser visto com cuidado e atenção”, alertou. Cuidados médicos e psiquiátricos, além da participação em grupos de apoio e religiosos também contribuem para a preservação da vida, na avaliação de Catonio.

 

Atenção e amor

 

Para a deputada Mara Caseiro (PSDB), as famílias devem estar atentas aos possíveis sinais, considerando que, para cada pessoa que se suicida, outras 20 tiveram tentativas frustradas (Mapa da Violência 2014). “Estima-se que uma pessoa tente se matar a cada dois segundos no mundo. Não podemos subestimar quando alguém fala que quer tirar a própria vida. Temos que conversar e lembrar que o tratamento mais eficaz é o amor”, afirmou. Membro da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa e autora da Lei 4.777/2015, que instituiu o Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio no Estado, ela apresentou hoje estatísticas e reforçou a importância da prevenção. “De cada dez pessoas que cometeram suicídio em MS, quatro são jovens, justamente o nosso público-alvo neste mês de conscientização. Vale lembrar que, para a OMS, justamemente de cada dez casos, nove poderiam ter sido evitados”, ressaltou.

 

Citando dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Mara informou que 1.098 pessoas tentaram suicídio em Campo Grande em um período de um ano e três meses. Ao longo de 2016, foram contabilizados 878 casos na cidade, sendo 285 homens e 593 mulheres. Neste ano de 2017, foram registradas 220 tentativas, 13 a mais que o mesmo período de 2016. Do total, 126 têm entre 15 e 29 anos. “São três tentativas de mulheres para cada homem, porém, para cada mulher que se mata, três homens tiram a própria vida”, analisou a deputada.

 

Presidente da Comissão de Saúde da Casa de Leis, Dr. Paulo Siufi (PMDB) enfatizou que ainda há muito desconhecimento a respeito do tema. “Muitos estão com depressão e nem sabem. É muito importante debatermos o assunto com informações técnicas e oferecermos condições a quem precisa de tratamento”, disse. Ele criticou a possibilidade de fechamento de leitos na Psiquiatria da Santa Casa de Campo Grande, que foi noticiada pela imprensa nesta terça-feira. Para a deputada Mara, seria uma “incoerência absurda”.