A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) realizou uma audiência pública na quarta-feira, 3, para discutir a produção da alga Kappaphycus alvarezzi como uma alternativa para reduzir a dependência do Brasil na importação de fertilizantes. O debate, solicitado pelo relator senador Jorge Seif (PL-SC), destacou os diversos usos da macroalga e a possibilidade de destinar uma emenda para financiar pesquisas sobre o tema.
Originária da Ásia, a Kappaphycus é cultivada no Brasil desde a década de 1990, mas em escala e aplicações ainda limitadas. Atualmente, o Ibama autoriza sua exploração no litoral de Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. Durante a audiência, pesquisadores apresentaram o potencial da alga para a produção de bioestimulantes, cosméticos e medicamentos.
— Temos um rol de universidades e institutos fazendo pesquisas sérias. Hoje, essas pesquisas custam de R$ 12 a 13 milhões. Eu gostaria de pedir esforços dos senadores da CRA para uma emenda da comissão para que esses recursos sejam passados para financiar pesquisas. O Brasil tem muito a ganhar. Sabemos que 10, 11, 15 milhões é um valor irrisório para o tanto que essa macroalga tem de potencial — afirmou Seif.
David Campos, pesquisador da Embrapa Solos, destacou que a Kappaphycus é acumuladora de potássio, material amplamente utilizado na fertilização do solo por agricultores brasileiros, mas do qual o país é dependente. Hoje, o Brasil importa 97% do cloreto de potássio que utiliza no setor.
— Essa alga é acumuladora de potássio. A gente precisa desenvolver projetos para o aproveitamento desse potássio que vem do mar. Nossas propostas estão alinhadas ao Plano Nacional de Fertilizantes — disse Campos.
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) ressaltou a oportunidade de superar essa dependência histórica:
— Nós temos a solução dentro do país para o custo que temos com fertilizantes. Temos que disseminar esse conhecimento para que aumentemos a produção e nos libertemos da dependência dos componentes dos fertilizantes.
Danielle de Bem Luiz, chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, destacou outros potenciais da alga, incluindo a indústria farmacêutica, alimentícia e biocombustível. A facilidade de cultivo também foi mencionada como uma vantagem significativa.
Além da questão comercial, a alga também pode colaborar no equilíbrio ambiental, melhorando a qualidade da água, absorvendo CO2 e auxiliando na reconstrução de ambientes marinhos. O representante do Sindicato Rural de Florianópolis, Leonardo Cabral Costa, afirmou:
— Temos a capacidade de melhorar o meio ambiente, monetizar com a captura de carbono, limpar os ambientes aquáticos. Toda área de cultivo tem o poder de trazer espécies que estavam afastadas. É um jogo ganha-ganha. Tanto monetariamente quanto para o meio ambiente.
Depois de ouvir os pesquisadores, o senador Flavio Azevedo (PL-RN) defendeu a ampliação da área produtiva da Kappaphycus:
— Não tem cabimento que não exista incentivo para a produção dessa alga no Nordeste do Brasil. Não pode limitar a produtividade. O Ibama tem de liberar a produção em outros estados.
Fonte: Agência Senado